Os artistas morrem ao sol



Os artistas morrem ao sol. Mas é um sol desconhecido. Oculto. Secreto. Que brilha nos interstícios da noite. Um sol feito de sonhos. De esperanças. De utopias. De medos. De raivas. De anseios. Um sol feito de flores e de pedras. De ruas e de becos. Sem saída, alguns. De jardins. De bancos. De vidas. De mãos. De pernas. De braços. De olhos. De bocas. De desejos. Incertos. Imprecisos. De hesitações momentâneas. De rostos. De névoa. De resgatadas horas consumidas em desertos. De cactos. De multidões. De sede. De destino. De liberdade.

Os artistas nascem de noite. No silêncio. No grito. Na tranquilidade desassossegada do tempo perdido. Reencontrado. No sangue. Por dentro de veias e de artérias. Nos teus olhos também. E nos meus. Nus. Esquecidos do que foram. Do que são. Embriagados de um futuro imprevisível. Que riscam. Traçam. Descrevem. Pintam. Na melodia imprevista da vida.

Os artistas entram e saem como se o mundo fosse a sua casa. Como se o pouco espaço que ocupam fosse o universo. Tivesse a dimensão do ser. Do estar. Do aparecer para um riso renovado. Do perder-se na vacuidade dos dias. Ressuscitados por noites de nostalgia. De força e fraqueza. De pincéis molhados em tintas de luz. De prazer. De infinito. De aqui e agora. De palavras. De tudo. De nada.

6 comments:

laura said...

os artistas viverão mais (melhor) que os restantes mortais?

ana said...

de certeza que os artistas vivem melhor, porque vêm mais beleza nas coisas, e a criam. e há tantos tipos de artistas que isto não tem que ser uma afirmação snob.


contigo sonhei eu hoje jctp. verdade. estavas feliz, regressado de uma corrida pelo rio. tinhas deixado crescer caracois, muitos, sobre a cabeça, e tinhas o mesmo ar sorridente com que sempre te encontro. estavas tão bem! que assim seja!

laura said...

ana, não acho que seja snob a tua afirmação... a minha dúvida é real, pois fico sempre com a sensação que ser artista é viver atormentado... o que às vezes cria problemas...

ana said...

talvez a urgência de por para fora, e o dificil de por para fora atormente os artistas, de facto.

Alba said...

Tão comovente este retrato romântico de almas bravias respirando na sombra, procurando a luz. Fez-me lembrar "A noite" de Ivans Lins. Conheces?

Rita said...

Os artistas são, como no teu caso, inesperados.

E isso é bom, muito bom. :)