Os artistas morrem ao sol
Os artistas morrem ao sol. Mas é um sol desconhecido. Oculto. Secreto. Que brilha nos interstícios da noite. Um sol feito de sonhos. De esperanças. De utopias. De medos. De raivas. De anseios. Um sol feito de flores e de pedras. De ruas e de becos. Sem saída, alguns. De jardins. De bancos. De vidas. De mãos. De pernas. De braços. De olhos. De bocas. De desejos. Incertos. Imprecisos. De hesitações momentâneas. De rostos. De névoa. De resgatadas horas consumidas em desertos. De cactos. De multidões. De sede. De destino. De liberdade.
Os artistas nascem de noite. No silêncio. No grito. Na tranquilidade desassossegada do tempo perdido. Reencontrado. No sangue. Por dentro de veias e de artérias. Nos teus olhos também. E nos meus. Nus. Esquecidos do que foram. Do que são. Embriagados de um futuro imprevisível. Que riscam. Traçam. Descrevem. Pintam. Na melodia imprevista da vida.
Os artistas entram e saem como se o mundo fosse a sua casa. Como se o pouco espaço que ocupam fosse o universo. Tivesse a dimensão do ser. Do estar. Do aparecer para um riso renovado. Do perder-se na vacuidade dos dias. Ressuscitados por noites de nostalgia. De força e fraqueza. De pincéis molhados em tintas de luz. De prazer. De infinito. De aqui e agora. De palavras. De tudo. De nada.