A musa ou o post (im)possível
Para a L., porque guardou.
I
Gostava de ti quando sofrias muito. Gostava de ti à beira da falência. Talvez eu seja sádico. Ou apenas não queira estar tão só no meu masoquismo. Não sei ao certo. Mas sei que te ficava bem a raiva do sofrimento. Que havia uma luz estranha e sedutora nos teus olhos quando os molhavas no choro. Não sei explicar porque era tão belo ver-te sofrer. Eu sei que isto parece doentio. E talvez o seja. Mas o certo é que gostava de ti quando não tinhas direcção e a esperança parecia quase impossível. Gostava de ti quando quase mais ninguém gostava. Quando tu própria parecias não gostar de ti. Quando falavas de ódio, piscavas muito os olhos e acabavas quase sempre a chorar. Gostava de ti quando me parecias muito pequena, quase insignificante. Gostava de ti, não apesar disso, mas por causa disso. Gostava muito de ficar em silêncio enquanto choravas perdidamente. Gostava de saborear o teu sofrimento e a minha absoluta impossibilidade de o sarar. Gostava de te contemplar, como outros contemplam um Deus, demasiado humano, pregado numa cruz, a sangrar. Gostava de te admirar como quem te adorava e te queria muito. Gostava de ficar assim, sozinho, a pensar em ti e no muito que sofrias. Gostava deste gostar de ti. Afinal, gostar de ti talvez mais não seja do que uma tentativa, quem sabe se desesperada, de gostar de mim.
II
Falar de ti, apenas. Mesmo que haja coisas mais interessantes, agora não me importam. Nunca me importaram, aliás. Ou talvez tenham importado, mas agora não. Falar de ti até à exaustão. Percorrer-te com o olhar. Aprender cada gesto, cada sinal, cada pequena e inaudita hesitação. Perseguir-te com os olhos onde quer que estejas, onde quer que vás, onde quer que chegues. Estar onde o teu corpo está. Ser já parte dele. Andar por dentro de ti. Inventar-te em palavras, ideias, delírios, medos, fantasias. Contar histórias a partir de ti, começar em ti, passar por ti, acabar em ti. Olhar-te sempre. Contemplar-te. Admirar-te. Aprisionar-te. Dirás às outras mulheres com quem inventas relações que te persigo com o olhar. Elas queixar-se-ão de amantes que têm ou tiveram que só as olhavam e nada mais faziam. Tu dirás que todos os teus amantes anteriores estão mortos porque nunca te olharam. Por mais que fizessem, nunca olhavam para ti. Nunca te viam. Nunca morriam à sombra da tua imagem. Eu sou o cemitério de todos os teus amantes possíveis. E é em mim que eles ressuscitam. E te olham. E te vêem. E sabem de ti. E quando te tocam já te aprenderam antes. Mesmo quem não tem olhos te vê quando te dá a mão. E sabe.
III
Eu sei um lugar onde é possível respirar. Não há desespero nem esperança, só há um entretanto, um entrenós. Não vale a pena teres medo ou antecipar o que quer que seja. Só o sorriso compensa a espera. Tudo o mais são espaços brancos de silêncio. Não há razão para estarmos aqui. Apenas estamos. Não. Não és tu que estás a escrever. Talvez nunca tenhas sido. Mas eu nunca to quis dizer. Doía-me tirar-te a ilusão. Quem escreve sou eu. Sempre fui eu. Sou eu que sangro das mãos e não sei viver. Sou eu que me perco e te procuro. Sou eu que nunca sei ao certo e que hesito. Sou eu que estou dentro de ti e brinco com os sentidos. Porque não me recrias? Porque não me reinventas? Porque não me fazes feliz? É apenas isso que queremos. Sempre foi apenas isso que quisemos. Sempre será apenas isso que saberemos querer. Mas tu nada sabes sobre nós, pois não? Que sabes tu sobre o que é ser mulher? Não sabes nada. Nunca o soubeste. Mas eu ensino-te. Eu ensino-te tudo. Eu ensino-te tudo o que puder aprender contigo. A esperança é uma mulher. O desespero um homem. Eu tiro-te do labirinto. Não precisas ter medo. Nunca houve outro caminho nem outra solução nem outra saída. Dá-me a mão, para atravessarmos a vida. As mulheres matam, mas uma mulher salva.
Gostava de ti quando sofrias muito. Gostava de ti à beira da falência. Talvez eu seja sádico. Ou apenas não queira estar tão só no meu masoquismo. Não sei ao certo. Mas sei que te ficava bem a raiva do sofrimento. Que havia uma luz estranha e sedutora nos teus olhos quando os molhavas no choro. Não sei explicar porque era tão belo ver-te sofrer. Eu sei que isto parece doentio. E talvez o seja. Mas o certo é que gostava de ti quando não tinhas direcção e a esperança parecia quase impossível. Gostava de ti quando quase mais ninguém gostava. Quando tu própria parecias não gostar de ti. Quando falavas de ódio, piscavas muito os olhos e acabavas quase sempre a chorar. Gostava de ti quando me parecias muito pequena, quase insignificante. Gostava de ti, não apesar disso, mas por causa disso. Gostava muito de ficar em silêncio enquanto choravas perdidamente. Gostava de saborear o teu sofrimento e a minha absoluta impossibilidade de o sarar. Gostava de te contemplar, como outros contemplam um Deus, demasiado humano, pregado numa cruz, a sangrar. Gostava de te admirar como quem te adorava e te queria muito. Gostava de ficar assim, sozinho, a pensar em ti e no muito que sofrias. Gostava deste gostar de ti. Afinal, gostar de ti talvez mais não seja do que uma tentativa, quem sabe se desesperada, de gostar de mim.
II
Falar de ti, apenas. Mesmo que haja coisas mais interessantes, agora não me importam. Nunca me importaram, aliás. Ou talvez tenham importado, mas agora não. Falar de ti até à exaustão. Percorrer-te com o olhar. Aprender cada gesto, cada sinal, cada pequena e inaudita hesitação. Perseguir-te com os olhos onde quer que estejas, onde quer que vás, onde quer que chegues. Estar onde o teu corpo está. Ser já parte dele. Andar por dentro de ti. Inventar-te em palavras, ideias, delírios, medos, fantasias. Contar histórias a partir de ti, começar em ti, passar por ti, acabar em ti. Olhar-te sempre. Contemplar-te. Admirar-te. Aprisionar-te. Dirás às outras mulheres com quem inventas relações que te persigo com o olhar. Elas queixar-se-ão de amantes que têm ou tiveram que só as olhavam e nada mais faziam. Tu dirás que todos os teus amantes anteriores estão mortos porque nunca te olharam. Por mais que fizessem, nunca olhavam para ti. Nunca te viam. Nunca morriam à sombra da tua imagem. Eu sou o cemitério de todos os teus amantes possíveis. E é em mim que eles ressuscitam. E te olham. E te vêem. E sabem de ti. E quando te tocam já te aprenderam antes. Mesmo quem não tem olhos te vê quando te dá a mão. E sabe.
III
Eu sei um lugar onde é possível respirar. Não há desespero nem esperança, só há um entretanto, um entrenós. Não vale a pena teres medo ou antecipar o que quer que seja. Só o sorriso compensa a espera. Tudo o mais são espaços brancos de silêncio. Não há razão para estarmos aqui. Apenas estamos. Não. Não és tu que estás a escrever. Talvez nunca tenhas sido. Mas eu nunca to quis dizer. Doía-me tirar-te a ilusão. Quem escreve sou eu. Sempre fui eu. Sou eu que sangro das mãos e não sei viver. Sou eu que me perco e te procuro. Sou eu que nunca sei ao certo e que hesito. Sou eu que estou dentro de ti e brinco com os sentidos. Porque não me recrias? Porque não me reinventas? Porque não me fazes feliz? É apenas isso que queremos. Sempre foi apenas isso que quisemos. Sempre será apenas isso que saberemos querer. Mas tu nada sabes sobre nós, pois não? Que sabes tu sobre o que é ser mulher? Não sabes nada. Nunca o soubeste. Mas eu ensino-te. Eu ensino-te tudo. Eu ensino-te tudo o que puder aprender contigo. A esperança é uma mulher. O desespero um homem. Eu tiro-te do labirinto. Não precisas ter medo. Nunca houve outro caminho nem outra solução nem outra saída. Dá-me a mão, para atravessarmos a vida. As mulheres matam, mas uma mulher salva.
7 comments:
Sabes, adoro a maneira como escreves o amor.
Sabes, às vezes até gosto da maneira como escreves o ódio.
Sabes, gosto de me perder contigo.
Sabes, tenho medo de me perder contigo.
Sabes, fazes-me sentir muitas coisas: boas e más, novas e velhas, como os amantes revisitados.
Sabes, já não respiro sem ti.
Sabes...
...
The Greatest
Once I wanted to be the greatest
No wind of waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
Stars of night turned deep to dust
Melt me down
Into big black armour
Leave no trace of grace
Just in your honour
Lower me down
To culprit south
Make 'em wash a space in town
For the lead
And the dregs of my bed
I've been sleepin'
Lower me down
Pin me in
Secure the grounds
For the later parade
Once I wanted to be the greatest
Two fists of solid rock
With brains that could explain
Any feeling
Lower me down
Pin me in
Secure the grounds
For the lead
And the dregs of my bed
I've been sleepin'
For the later parade
Once I wanted to be the greatest
No wind of waterfall could stall me
And then came the rush of the flood
Stars of night turned deep to dust
...
Sabes, eu não sou assim como tu o dizes, não em tudo, não em quase tudo.
Sabes, esta noite, se não houvesse toda esta distância, gostava de dormir nos teus braços ou que dormisses nos meus.
Sabes...
:)
nada como ter alguém que gosta de ler os nossos textos a ponto de os guardar...
Tens uma história para ti no panfleto. ;)
Quem és tu?
Há um desejo de apagar tudo neste blogue. Até no título: uma vez apaguei tudo, outra queimei. Contingências das mudanças de plataforma.
Um texto de outono...que eu gostei muito, se o abrisse numa folha perdida dentro de um livro escolhido ao acaso numa livraria errante, levava-o comigo para casa.
Tinha saudades de te ler, bem vindo de volta, apaga quantas vezes quiseres, mas volta sempre, fazes falta.
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